Penso no problema dela e como não posso resolvê-lo. Este sentimento de impotência pôs um prego em minha garganta. Quem sabe escrever ajuda. Ajuda a mim, quer dizer. Assito a talk shows, resolvo palavras cruzadas. De fato o que sinto falta é da mágica. De trabalhar a mágica, com a mágica, por trás da mágica. A dureza da realidade dói e importuna, da mesma forma que imagino que uma dentadura herdada de uma pessoa com maxilares maiores doa e importune.
Comprei um lápis semana passada. Usei duas vezes. Fiz dois desenhos e pus o lápis junto às minhas canetas ruins. Não sei onde enfiei minhas canetas de escrita gostosa. E este computador é uma gemeção só, acentuar é um exercício de acrobacia. Revejo à exaustão os classificados. Tenho tentado me arrastar para a calçada ensolarada, melhorar meu humor, ser otimista. Mas tá foda. Vou precisar de uma cara de pau de quarenta metros cúbicos para convencer alguém a me empregar. Neste momento eu não me contrataria nem para fazer silêncio.
Que idéia. Me deu uma idéia meio doida meio andrade. Que talvez bastasse comer um argentino. Comer mesmo, digerir. Assimilar o grande e sólido ego do argentino proverbial. Meu ego deve estar junto com minhas canetas de escrita gostosa. Talvez bastasse sair enfiando um canudo na moleira de bebezinhos risonhos e roubar sua serotonina. Se não tivesse nevado quando tudo era bulbos...
10.04.07
"You've got to get yourself together. You got stuck in a moment and you can'tU2
get out of it."