"Break" Toutain, 2006
Kebab

Decidi pedir um pequeno.
O cara da lanchonete andava de um lado pro outro, fazendo comida, cobrando, explicando a um amigo no telefone que Mohamed mora no mesmo predio da mae dele (do cara da lanchonete). Sim. Sim! Grunerlokka! Outro cara chuta o caca-niqueis, estranhamente, com afeicao.

O cara da lanchonete perguntou:
- Forte, medio ou fraco?
- Sei lah - eu respondi.
- Sei lah?
- Eh.

Todos nos rimos.

- Voce segura a barra de um kebab apimentado?
- Claro! Tah me chamando de mulherzinha?

Mais risos

- Voce eh de onde? - o chutador perguntou.
- Brasil.
- Ah, uma terra linda! Nunca fui lah.
- Eh. E voce?
- Marrocos. Mas jah moro aqui ha muito tempo. E voce?
- Oito meses.
- Uau, pra oito meses voce fala bem a lingua.
- Voce acha? Que nada, eu sou uma tosca.
- Nao, voce fala bem. Sabe o que eu sei em portugues? "ABRUGADO!"
- Hahaha, "de nada, de nada". "Mush-mushki"!
- Hahahahaha, isso mesmo, "sem problemas"! Quem te ensinou?
- Um rapaz que trabalha comigo.
- Hahaha, Mush-mushki! Tchau! Prazer!
- Tchau, tchau! - eu disse e sai na chuva - Tchau, Habibi! - eu gritei da escada soh pra fazer eles rirem um pouco mais.

Da proxima vez peco um kebab fraco.

Ainda bem que existe coca-cola.

26.4.03
Sabado e dia anterior

O dia me inflingiu
a dor incomoda de estupidez e dor mesmo
e me lembrei da ocasiao (recorrente)
em que o peso da porta -
um antigo peso de balanca antiga -
desequilibrou-se e atingiu meu dedao do pe,
deixando uma mancha
debaixo da minha unha
parecendo uma pixacao
nas costas de um banco de onibus

"Peso de porta was here"

Chuva, sabado, TPM.
Ainda bem que existe coca-cola.

*

Ontem quem me visitou foi meu cheiro
favorito: asfalto molhado!

Pena que cheiro nao tem corpo.
Eu queria te-lo abracado
e dito: "Benvindo, rapaz! Quanto tempo!
E os meninos, como vao?"

26.4.03
Planos para uma caneta branca

Eu sempre quis uma caneta branca para escrever em papeis coloridos casas dedicadas e declaracoes sentida. Ontem, quando a comprei, pensei que seria poetico escrever no ceu o meu recado. Cotovelo apoiado na janela, uma mao segurando a noite pra ela nao escapar, a lingua pra fora da boca, testa franzida e olhar concentrado. Aproveitar a lua cheia como uma letra elaborada.

O

h, que ceu mais lindo,
uma barriga de urso dormindo!


Ai o dia viria e meu verso sumiria. Tipo "tela magica".

Mas hoje o ceu esta chovendoe o branco no branco nao pega.

Preciso paciencia de esperar o ceu secar.

26.4.03