"Break" Toutain, 2006
Common kitchen

So, ’panne’ means both
Forehead
And
Frying pan
As I could understand
From the hungry lady
with an empty food pack
cooking something that looks fresh
and that she claims is never enough food
only a pack

- The princess is sitting on the bench
And is very skeptical
Of the new information –

So I say
Beklager
(for it sounds more
hamletlistic
than unnskyld)
And ask again
If panne means both
Det – pointing at my forehead
Og det – frying pan

Ja, da.

I guess it makes sense
You can also feed from thoughts
And get a hot head from overthinking

What about a thoughtful meal
Or forvirret noodles

The hungry lady leaves the common kitchen
Before I gather courage to ask
If her panne has
A bestemt flertall.

oslo
11.11.02
(originalmente escrito em ingles)

..........................................

cozinha comum

entao, 'panne' significa tanto
testa
quanto
panela
pelo que pude entender
da moca com fome
com um pacote vazio de comida
cozinhando uma coisa que parece fresca
e que ela alega nao ser nunca suficiente
so um pacote

- a princesa esta sentada no balcao
e esta muito desconfiada
da nova informacao -

entao eu digo
Beklager
(porque eh mais
hamletlistico
que unnskyld)
E pergunto mais uma vez
se panne significa tanto
Det - apontando pra minha testa
Og det - panela

Ja, da.

Acho que faz sentido
Tambem se pode alimentar de pensamentos
E esquentar a cabeca por pensar demais

Que tal uma refeicao ponderada
Ou macarrao forvirret

A moca com fome sai da cozinha comum
Antes que eu tenha coragem de perguntar
Se a panne dela tem
Um bestemt flertall.

[beklager = desculpe]
[unnskyld = desculpe]
[det = isso]
[og = e]
[ja, da = sim, decerto]
[forvirret = confuso]
[bestemt flertall = plural definido]


pra viagem

voce passa com a bandeja
(e nela os trocos furados
do bolso da minha famina)

ha velas e flores e mulheres de meia
uma duzia de bracos e focos de brasa
mas ai
voce passa com uma bandeja
o ar se tresgelatina
vore retira o prato
voce limpa a mesa

eu, fodida, salpico
as migalhas do meu esofago
meu olhar ensopado pra dois
quase nada, este olhar de truta
eu aqui de acompanhamento
(o arroz no cantinho do prato)

eu decoro o seu trajeto
de modo que poderia desenhar
os seus passos no assoalho
igual aos tapetes que ensinam
os passos de uma danca de salao
no desenho do pateta

voce recolhe a prataria
- eu que mordia a colher! -
me traz mais um copo d'agua...
me tras uma salada grega...
me traz sobremesa de amora...
e aquele amor?

conta, agora.

31.08
En kaffe til

o bar se chama botica - botica! - e eh aqui
que venho tomar meu cafezinho
de vez em quando.

trago aas vezes um livro
mas o que sigo lendo
eh o verso no cotovelo
de cada pessoa.

ha uma flor em cada mesa
mobilia de tronco escuro
um espelho na outra sala
um balcao
e cem garrafas estrangeiras.

nos lustres adaptados
minha alma se pendura
pelas suas mercurias
pernas de alma.

o meu folego e bom senso
eu os penduro no cabide
e uso palavras estranhas
e lambo a borda da xicara...

no som ambiente uma flauta

afunda rasa memoria

convalesco da tua falta.

bar apotheket,
31.08.02
foxx


e dizer o que? o bar tem um aspecto limpo e cursivo como um bom site da internet. na geladeira industrial, sanduiches e garrafas de suco de laranja intercalados simetrica e ainda dinamicamente. tons de azul e cinza, uma musica eletronica sussurra. a moca de cabelo liso e longo atras do balcao eh tambem plana e harmoniosa: polo cinza, avental mais cinza ainda. no bar, copos disponiveis, duas jarras d’agua. eu estou no outro canto, atras de uma das mesas de madeira clara, sentada no sofa sem encosto revestido de veludo escuro – muito muito preto. limpo, como dizia. do lado de fora cai uma chuva cheia de ma vontade, pingos grossos de mercurio, um frio de afogar a alma. eh cedo. no canto de la do outro lado vejo, detras do meu livro ja tatuado pela piloto vermelha (sublinhas e ”ilha”, ”ilha vocab” e palavras circuladas esperando julgamento do webster) , uma moca de cabelo muito claro e uma presilha no cabelo em forma de uma exuberante flor azul. ela titonteia o rabo de cavalo para livrar-se da echarpe, e a echarpe e a flor sao da cor da parede aa sua frente, dois tons menos azuis que os pequenos azulejos corredios. no desfile horizontal das palavras impressas no papel jornal do livro de bolso, kerouac e sua viagem ao oeste. recorto algumas passagens e me divirto com o zumbizar do garcon que recolhe xicaras e cinzeiros. ah. e quarenta paginas se vao assim, dois cafes, duas aguas. se pudesse tirar uma foto do tempo, eu penso. este eh o tempo que imagino o mais moderno de todos os tempos, e se alguem pudesse tirar uma foto do tempo inteiro deste tempo seria esta cena: os cabelos das mocas, a flor, a parede, as cores, a cara de pagina que tem este lugar. o banheiro pleno de design e invencionices, a chuva grossa, a suspeita de desespero, o cheiro de confianca na ignorancia do futuro. mas nao tera sido assim em outros tempos? outros cafes e bares e outras ultimas musicas e outras fotos preparadas quando ja ainda nao existia essa coisa de fotos. e como sequestrar todos esses nós numa dez por quinze. seria preciso incluir a musica, a moca, o garcon, o azulejo, a almofada, o cheiro, a pagina trinta e dois do on the road, a manchete das criancas assassinadas, a nova grande descoberta. me intrigo. pelo descanso na porta passa o vento a lembrar-se na lista. por o vento na foto! e enquanto queimam assim meus cabaites escapei seis paginas ilesa, palavras refogam aa baila e alem do entendo. retorno ao papel e aa piloto. e penso agora que talvez more nesta ultima o recurso pra minha foto do tempo.

m,m

cafe foxx, oslo, 01.10.02